terça-feira, 9 de julho de 2013

Ainda com relação às manifestações no Brasil e no Mundo

As reações dos "políticos profissionais", depois de todas as manifestações (que continuam, aliás, ainda que numa menor intensidade e de forma um tanto mais pontual), demonstram aquilo que noutra postagem ironizei, no sentido de que os "representantes" estão vivendo num mundo analógico e os "representados" num pluriverso digital.

Os congressistas de, praticamente, todos os países -- e os do Brasil se mostraram iguais -- fingem que não compreendem a "cultura de participatividade" atual. 

Entre centenas de outros fatores, uma pesada influência nessa "cultura de ativismo" é a do próprio consumo contemporâneo. As empresas que financiam os congressistas (as verdadeiras e únicas eleitoras) é que criaram o ambiente que, agora, os assusta.

Quem não percebeu que a televisão, o rádio e outras mídias passivas se transformaram em mídias participadas ou perderam espaço (para as redes sociais, por exemplo)? Quantos programas de rádio ou TV, hoje, pedem ao público que ligue e dê sua opinião ao vivo ou deixem seus emails? Ou decidam o que vai acontecer? 

Quem não percebeu o surto que são os blogues, o facebook, o Youtube etc. etc.? Instrumentos que canalizam um gigante "excedente cognitivo", tecendo uma rede colaborativa de dados?

Quem não percebeu que os produtos são, cada vez mais, resultados de pesquisas junto aos consumidores ou feitos sob encomenda? 

E, a propósito, o público de "menor poder aquisitivo" nunca ficou de fora disso: basta observar o exemplo cotidiano das FMs "mais populares". As pessoas passam o dia ligando para escolher as músicas que querem ouvir. Elas fazem a programação.

Quem não percebe que a graça dos celulares, hoje, é o compartilhar de informações, fotos, frases, textos etc. e não apenas "receber" ligações?

Todo esse "compartilhamento" (proatividade em comentários, críticas, respostas a pesquisas etc. e a criação de conteúdo por não profissionais) parece estancado quando o assunto é "política".

A narrativa dominante era a de que "as pessoas não gostam de política". A novidade das últimas manifestações globais (e brasileiras) -- que, no fundo, era algo já sabido mas pouco visto e ouvido -- é que "as pessoas gostam de política, não gostam é de serem expulsas da festa". Gostam de resolver problemas em conjunto, não gostam é que se aproveitem delas. 

Em resumo, para não alongar muito essa chamada de atenção, e me ater somente ao exemplo do "novo consumo": qualquer um nota -- sem esforço -- o descompasso entre a nossa vida comum (as novas formas de participar que estão por todo o lado!) e a "política profissional" (que continua no velho discurso "as pessoas são ignorantes e não gostam de decidir").

Esse abismo foi desafiado. Nossa tarefa é mostrar que essa dissimulação dos "representantes" não vai mais colar.

Autor: Péricles Sousa - Procurador da Fazenda Nacional - Doutorando em Coimbra/Portugal.

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