O treinador Gallo cantou forte e anunciou que nas seleções de base
não haverá mais jogadores com brincos, fones de ouvido, penteados
diferentes e com marra. Sua decisão me lembrou o Chile de Pinochet e a
Argentina de Cesar Menotti.
Leitor assíduo de jornais, uma das
imagens mais chocantes que guardo na memória foi de jovens chilenos
fazendo filas enormes para cortar o cabelo. Era 12 de setembro de 1973,
um dia após o golpe militar do general Pinochet, que acabou com a
experiência socialista – referendada pelo voto – de Salvador Allende.
Uma cena brutal. Seres humanos sendo obrigados a usar um tipo de cabelo determinado pelo milico de plantão.
Menotti
não tem nada a ver com Pinochet. E nem com Gallo. Treinador que sempre
apostou no toque de bola e na boa colocação da defesa em vez de faltas
violentas, Menotti era um amante do futebol. E contava uma história para
ilustrar como esse era o esporte mais democrático existente.
“Se
em qualquer treino de qualquer esporte, o treinador se recusar a dar uma
chance para um garoto gorducho, um garoto aleijado ou um garoto quase
anão, ele terá poucas possibilidades de estar errado. Se for treinador
de futebol, poderá estar afastando genios como Coutinho, Garrincha e
Maradona”.
É isso. Gallo não quer marra. Vai para casa, Romário.
Gallo não quer cabelo comprido? Fora, Neymar. Gallo não gosta de brinco.
Toma seu rumo, Maradona.
É muito triste ver a paixão popular nas
mãos de alguém tão tacanho. Ele deveria estar preocupado com a falta de
jovens jogadores que saibam marcar (laterais), que saibam passar
(volantes) que saibam fazer recomposição (meias).
O Brasil está
atrasado taticamente, basta ver o futebol europeu. (E como me dói dizer
isso) e o professor quer saber de comprometimento, de restrições, de
autoritarismo.
Ele disse, ao Estadão, que há um garoto sub-15 do
Grêmio, de ótimo futebol e que não foi chamado porque se recusou a dar a
mão a um treinador durante um jogo. Fácil, né? Difícil é convocar e
ensinar. Passar conceitos. Melhor, não. Que conceitos passaria? Ordem,
disciplina, restrição?
O Brasil tem dado muito valor aos
treinadores. Um jogador pode se chamar Gallo. Quando vira técnico se
transforma em Alexandre Gallo. Junior vira Dorival Junior. E aí vai.
Treinador é tão importante que precisa ter sobrenome.
Atitudes
como essas de Gallo mostram o deserto de ideias que vive o futebol
brasileiro, comandado por esse tal Marin, esbirro da ditadura.
O Brasil não é assim. Não é um país jeca. Nosso futebol é maravilhoso. Não precisa de professores gallos.
Fonte: http://blogdomenon.blogosfera.uol.com.br
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