sábado, 28 de junho de 2014

Calma Seleção: Respira e Dribla

Em condições normais, deixaria a Copa passar, sem dizer nada. Talvez até preferisse comentar algo sobre o quanto os "protestos" nesse Mundial ajudam a manter a "política profissional" alerta ou coisas assim. Mas vou dizer algo diferente, dessa vez, pelo que senti depois desse primeiro jogo eliminatório.
Seleção Brasileira de Futebol,
Todos os dias -- e por jogar em casa, ainda mais -- seus jogadores e seus treinadores escutam que devem "dar a vida em campo", "que a alma de tod@s @s brasileir@s está com vocês no jogo"... Mas acho que frases como essas podem ser compreendidas de várias maneiras...
Vocês demonstraram ser bons guerreiros, demonstraram que não se entregarão, que "não desistem nunca" -- sem dúvida, isso é um lado de ser Brasil. Nesse sentido, vocês representam todos os nossos sofredores, os 99% que acordam para trabalhar, enfrentam todos os maus serviços públicos, enfrentam a dureza de sobreviver no Terceiro e no Quarto Mundos e ainda tentam, todo dia, fazer com que amanhã seja melhor que ontem. Este é o país do povo que apanha, que sofre, que chora, que é roubado, mas, não se sabe como, arranja esperança de que conseguirá transformar a própria vida e a de tod@s e arranja determinação para fazer isso.
No entanto, falta demonstrar um outro lado importante de ser Brasil: a alegria na adversidade. O sorriso, o humor, a brincadeira. O futebol deste país se tornou conhecido por ser "plástico", por ser "bonito", por revelar "craques". E "craques" são aqueles que fazem uma jogada que ninguém espera. Que desconsertam o adversário. Esse Brasil tentou aparecer contra Camarões, depois recuou. Achou que perderia a seriedade. Pois bem. Percam um pouco a seriedade. É Brasil!
É muito difícil jogar uma Copa em casa. A gente sabe, Seleção. A última vez que um jogador brasileiro precisou ficar tão nervoso foi há 64 anos... Imaginem! Querem um conselho: deixem o nervosismo com a gente. Torcida é pra isso. Torcer é isto: gritar, cantar, pular, roer a unha. Jogar não. Jogar é dar show. É participar num espetáculo. É encantar os outros países, mostrando pedalada, tabelinha, chapéu, elástico, drible da vaca, caneta, lambreta, bicicleta... Essa é a grife brasileira. A Seleção de 1982 ficou na história sem ganhar um Mundial. A seleção de 1970 ficou na história, inclusive por ganhar um Mundial -- mas não apenas, a gente sabe que não.
Portanto, se a Colômbia ganha jogando limpo, driblando, fazendo "gol de placa", vocês pensam que ela aprendeu isso com quem?
É preciso, então, lembrar que não basta ser guerreiro. Tem de ser artista. O coração é garra, mas é emoção também. Se vocês, que "não desistem nunca", mostrarem, agora, talento, habilidade, finta, agilidade, leveza, nós ficaremos felizes. O Brasil continua sendo o país do Carnaval. Não precisamos perder o sorriso para arrumar nossa política, nossos gastos, nossa corrupção. Quase todos os protestos, hoje, são alegres (esqueceram dos cartazes, das músicas?). Há um jeito engraçado até de embaraçar políticos e "cartolas" nas cerimônias. De tirar onda nas redes sociais.
A minha mensagem, portanto, se vocês quiserem essa sexta estrela é‪#‎calmaSeleção‬, brinquem mais em campo, façam aquilo que levou vocês todos para os melhores clubes do futebol mundial e fizeram de vocês atletas (re)conhecidos. Lutem com calma. Há duzentos milhões de nervosos, mas o que a gente quer, de verdade, é que vocês mostrem talento. Gol. Animação. Folia nos pés. Esse é nosso orgulho. Futebol pragmático não é nossa marca.
É muita pressão. É verdade. Mas esqueçam que é Copa, um pouco. Voltem aos campinhos de bairro. Às ruas perto de casa. Aos treinamentos do sub-20. Todos vocês começaram assim. E chegaram tão longe assim..
O autor: Péricles Sousa é Procurador da Fazenda Nacional, atualmente está concluindo em Coimbra/Portugal seu Doutoramento em Direito. Apesar de muito jovem, desde a tenra idade aprecia um bom Futebol e, colabora com o Blog.

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