quinta-feira, 18 de julho de 2013

Política e Futebol há muito se conectam no Brasil

O pior das velhas "práticas politiqueiras" sempre esteve nos clubes esportivos, gerando verdadeiras "ditaduras" e "máfias". Além disso, por diversas vezes, os chamados "cartolas" se tornaram políticos profissionais (especialmente vereadores e deputados estaduais e federais).

Sempre houve oposição a essas figuras, entretanto, destaco, agora, o movimento "Torcida Zero", dos adeptos do Esporte Clube Bahia, que teve lugar durante as grandes manifestações sociopolíticas, éticas, culturais e econômicas que abalaram a primavera no Brasil (junho/2013).

O Bahia, tradicionalmente, lotava estádios: das maiores médias de público do país. Foi fácil, então, aos torcedores perceber que, diante dos desmandos e da falta de democracia imputados à Presidência de Marcelo Guimarães Filho, poderiam parar de aumentar os cofres do time, "zerando de torcida" os jogos...

Não vou comentar, especificamente, sobre aquela Presidência, porque os amantes do Esquadrão de Aço sabem os motivos que os levaram a protestar. O fato é que mobilizaram o Governador do Estado, o Prefeito de Salvador, vereadores, secretários de esportes do Estado e do município, Senadores, Deputados Federais, ex-jogadores históricos do clube, fundaram o movimento "Bahia da Torcida" (que tentava renovar as práticas políticas e de gestão da entidade) e, de fato, minaram ou, mesmo quase 'acabaram' com a renda do clube em diversas partidas...

Resultado: desde 2011 corria processo na Justiça contra o último processo eleitoral no clube e a expulsão do Conselheiro Jorge Maia. Esse processo fora movimentado e pressionado e, por decisão da desembargadora Lisbete Maria de Almeida, do TJBA, o advogado mineiro Carlos Rátis fora nomeado interventor do clube (para analisar e apurar todos os indícios de crime das gestões das últimas décadas e convocar novas eleições). Fora expulso Marcelo de Oliveira Guimarães Filho -- que, por sinal, é ex-vereador e ex-Deputado Federal -- filho de outro ex-político, empresário e ex-Presidente do Bahia.

O Brasil dos políticos cartolas e dos cartolas políticos, dos filhos de alguém, dos que tratam o patrimônio público e o patrimônio coletivo como privado, viu mais um episódio que disse rotundo não a toda essa herança.

Articulação inteligente e democrática (ações e estratégias criativas e inclusivas), amor por um ideal comum (neste exemplo, a camisa de um time e seu passado e possibilidade de grandioso futuro) e tentativa de refundar as coisas, com base na ética. Três forças que não podem mais ser desprezadas, no novo Brasil, pós-2013.

País do futebol, podemos até ser. Mas da honestidade, acima de tudo.

Péricles Sousa 
O autor é Procurador Geral da Fazenda Nacional, doutorando em Universidade de Coimbra e gosta das coisas direitinhas.

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