terça-feira, 4 de julho de 2017

BR- 319 – A ESTRADA DA VERGONHA


Primeiro era a Rodovia do sol, da água e do verde. E saiu do limbo em 1976, para cumprir a um acordo firmado entre o Brasil e a Venezuela, durante o Governo Militar, que versava sobre o asfaltamento de até oito quilômetros de suas fronteiras, dentro do Programa “Pra Frente Brasil”, que tinha como slogan: “Integrar para não Entregar”.
Na época, juntamente com a Transamazônica, foram consideradas as rodovias mais caras do mundo, responsáveis inclusive por 20% da dívida externa brasileira.
No curso de sua construção, foram trazidos os famosos equipamentos “anfíbios”, utilizados pelos americanos na guerra do Vietnã, máquinas trituradoras com especialidade e desenvoltura, tanto para trafegar sobre pântanos, como sem temor, rasgar de forma alucinante os pulmões da selva bruta.
Há exatos trinta e um anos, o tráfego foi fechado oficialmente. Com isso, o projeto, a picada, o esforço de operários e o elevado custo financeiro da obra, acabaram se perdendo no éter das ilusões e, sem berro, foram jogados na lata do lixo da história da engenharia civil do país.
E a rodovia, nos dias que correm, virou um caminho de onça. É apenas uma trilha de atoleiros sem fim e afundada em meio ao matagal, onde intermináveis filas de carros e caminhões dão o exato tom da dor e do drama vividos por aqueles que nela trafegam.
O que antes era um sonho de progresso para a região, com o tempo, se transformou na Estrada da Vergonha, mal tratada, indefesa e esquecida. Entregaram-na, ao contrário do slogan que ancorou seu ponto de partida.
Diante de situações assim, é prudente refletir sobre a arte de aceitar burras decisões sem protesto. Será que nós, os nortistas, padecemos virtualmente do pecado venial da vergonha? Se for isso, agora é imperioso resgatá-la com a rapidez necessária, expulsando os fantasmas da burrice e da morna omissão que nos perseguem.
Aliás, já olhando assim, “por cima”, de alguns anos vividos pra cá, concluímos que a vergonha está para os homens, assim como o sangue está para a vida.
Quando me lembro de tanta coisa malfeita, mal-acabada cá para estas bandas, fico a me perguntar: Qual é mesmo o norte do ofício de governar? É abrir estradas como dizia o presidente Washington Luís?
Ou é o que fizeram todos os ex-presidentes da democracia até agora? Deixar esses corredores de progresso virar caminho de onça, como bem vaticinou Juscelino Kubitschek, quando se referiu a BR-364?
O Estado de São Paulo, o mais rico do País, dá prioridade às estradas, porque seus governantes têm consciência da importância desses corredores para o transporte de riqueza, geração de emprego e renda.
No Estado de Goiás, outro eloquente exemplo, as rodovias são tapetes-negros, luxo puro, puro luxo; por lá, tudo, menos estradas esburacadas.
Por estas bandas, onde a pobreza esplende com coloridos fortes, os políticos e governantes simplesmente desprezam as estradas já feitas sem um mínimo de protesto. Foi assim com a BR-319 e vem sendo assim com a BR-364.
A BR-319 que poderia se constituir no corredor econômico dos Estados do norte do país, propiciando empregos, impostos e etc.; hoje é uma imensa cratera, um pântano encharcado pelas águas, dando abrigo à vergonha ali submersa que, de perto, vê-se o contraste da pintura feita com a pena da tragédia e a tinta da ironia e do deboche.
Para justificar o abandono, o descaso e o morno silêncio, vozes perversas têm certeza e fazem coro para dizer que, todo esse desestímulo é patrocinado pelas companhias aéreas. Outros acham que são os donos de balsas e barcos os gestores desse ocaso.
Se tivesse que optar, nos dois casos, levaria em conta o interesse das empresas aéreas, haja vista que o usuário é acariciado pelo conforto de viajar de avião, mas é desmoralizado, na maior cara de pau, pelo valor exorbitante da passagem.
Céticos, no entanto, não descartam a coerente hipótese de que falta mesmo é vergonha na cara dos parlamentares que se contentaram com o “baixo clero” no Congresso Nacional e não são capazes, sequer, de honrar as calças que vestem e, com todas as letras, o mandato que lhes foi outorgado pelo povo.
Ora, se os "representantes amazônicos" atuassem em bloco, e elegessem o interesse coletivo sobreposto ao individual, certamente a escrita era outra, e jamais se restringiriam à indicação de “carguinhos” de quinto escalão no congestionado miolo dos organismos federais do Estado...
Senão, a se perfilarem ao abraço e ao ataque dos macros problemas, sem deixar à deriva a história do desenvolvimento da região que, na medida em que se retiram os recursos minerais, vai empobrecendo visivelmente diante dos olhos piedosos de quem os elegeu.
Senhores deputados, senhores senadores, vamos dar um tranco no lugar que lhes foi imposto em Brasília pelas grandes bancadas e arrepiar a inércia.
Digo mais. Ponham a boca no trombone e mostrem a cara da mentira deslavada que reina e faz folia neste País tropical, onde vagos interesses se escondem e Estados como os do norte do pais, apodrecem à míngua por falta de circulação de suas próprias riquezas.
Essa questão de riqueza no mundo capitalista é muito mais séria do que imaginamos e já data nos registros históricos da humanidade há mais de 5.000 anos.
Só para se ter uma ideia, fenícios e caldeus, à época das civilizações, já conheciam a importância dos corredores de riquezas, enquanto nós, engatinhamos engajados na pequenez e no curso histórico da indiferença.
Por tudo isso, nós, povo, vamos acordar, arrepiar a vergonha e ir para as ruas, pacificamente é claro, e mostrar para todo mundo que aqui vivem brasileiros de “saco roxo”, e que não podem e nem devem mais à sombra de interesses mesquinhos, submeterem-se ao estado de isolamento de toda uma região, pela omissão de deputados federais e senadores, sob as bênçãos do poder central.
A urgente recuperação da BR-319-Porto Velho/Manaus ou a Estrada da vergonha, deve se constituir num ideário histórico do povo de Rondônia, importante entroncamento que liga o Norte ao resto do País, além de estratégico modal de transporte para o exterior, e de rentável intercâmbio entre os eletros eletrônicos amazonenses e o prodigioso agronegócio rondoniense.
Se governar é mesmo arte de abrir estradas como dizia o velho Washington Luiz, Rondônia, Acre, Mato Grosso, Amazonas, Amapá e Roraima, devem se reunir, se for o caso, daqui a pouco, levar as mãos na consciência e começar a governar sem leviandade e omissão.
Se assim não for, o que se assistirá, em futuro bem próximo, será uma nova clarinada, desta vez, de rondonienses, natos ou adotivos, para todos os lados do país, tangidos como aves de arribação, porque aqui, certamente, o pouso e a convivência terão ficado fétidos, insuportáveis...
E também, porque estamos todos nós, há trinta e um anos, ombreados na mesma e legítima convicção: resgatar um sonho real de progresso - A SOLENE REABERTURA DESSA RODOVIA -
Contrário senso, é sofismar, é conversa pra boi dormir!
E quem tiver nessa comigo, levante o braço, comente, curta e compartilhe! AMÉM!

(*) O Autor é Advogado; Radialista e apresentador do programa; A Voz do Povo na Rádio Cultura FM 107,9 de segunda à sexta de meio dia às 13h.

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